terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ouvindo Riobaldo dizer...


"O senhor sabe: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. diverjo de todo mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo eu digo: para pensar longe, sou cão mestre - o senhor salte em minha frente uma idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!!!

Olhe: o que devia de haver, era de se reunirem os sábios, políticos, constituições, gradas, fecharem o definitivo a noção - proclamar por uma vez, artes, assembléias, que não tem diabo nenhum, não existe, não pode. Valor de lei! Só assim davam tranquilidade boa à gente. Por que o governo não cuida?!

Ah eu sei que não é possível. Não me assente o senhor por beócio. Uma coisa é por idéias arranjadas, outras é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias... Tanta gente - dá susto saber - e nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza, ser importante, querendo chuva e negócios bons... (...) Ou a gente tece de viver no safado comum, ou cuida só de religião só. eu podia ser padre sacerdote, senão chefe de jagunços; pra outras coisas não fui parido. Mas minha velhice já principiou, errei de toda conta. E o reumatismo... Lá como quem diz: nas escorvas. Ahã."


(Grande Sertão Veredas- Guimarães Rosa)






Nenhum comentário: