terça-feira, 13 de julho de 2010

Carta III ( De Fernando para Clarice)



“A arte não nos satisfaz porque não passa disso: é o testemunho de nós mesmos. Estou fuçando vago, e ultimamente ando cada vez mais tolerante com a vaguidão das palavras”. (...) Tudo o que tenho feito cada vez corresponde menos ao que eu queria fazer. O falso romantismo da criação dá lugar a fragilidades, ao doloroso processo que a envolve."

Carta II (De Clarice para Fernando)


"Passo o tempo todo pensando – não raciocinando, não meditando – mas pensando, pensando sem parar. E aprendendo, não sei o quê, mas aprendendo. Não trabalho mais, Fernando. Passo os dias procurando enganar minha angústia e procurando não fazer horror a mim mesma. (...) Estou vendo que não disse nada, que não é nada disso, e estou vendo que estou bastante perdidinha. Estou sempre errando”.








Carta (De Fernando para Clarice)




Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1953

Clarice, Gostei de saber que você está com a alma mais sossegada. O
sentimento de grandeza que você acha que está perdendo talvez agora é que você esteja adquirindo. Sua predisposição para ficar calada não é propriamente uma novidade: a novidade é estar aceitando, inclusive, o silêncio. É bom isso, dá mais paciência, mais compreensão, dá mais sentimento às coisas — e dá grandeza.
Fernando.

Uma coisa chamada...

... Clarice!

"Clarice Lispector é uma coisa escondida sozinha num canto, esperando, esperando. Clarice Lispector só toma café com leite. Clarice Lispector saiu correndo correndo no vento na chuva, molhou o vestido perdeu o chapéu. Clarice Lispector é engraçada! Ela parece uma árvore. Todas as vezes que ela atravessa a rua bate uma ventania, um automóvel vem, passa por cima dela e ela morre. Me escreva uma carta de 7 páginas, Clarice". (Clarice Lispector, por Fernando Sabino)





O escritor já havia terminado sua longa carta, tendo, inclusive, assinado-a. Mas, parece que ao perceber que ainda resta meia folha disponível, lançou-se nesse improviso lírico, assinando-o ao final. (Carta manuscrita, enviada de Nova York e datada de 10 de junho de 1946. Arquivo Clarice Lispector da Fundação Casa de Rui Barbosa. )


Ufa! Sai da fase "Perssona", que é meio pesadona (eu acho), e fui me refrescar um pouco. Andei lendo um "Livro Sobre Nada" do Manuel de Barros. Que delícia que ele é. Depois vou postar uns poemas dele. Cada um melhor do que o outro. Mas hoje eu to daquele jeito... que não é só lendo a Clarice Lispector, é sentindo mesmo. Porque tem gente que diz que Clarice a gente não lê, a gente sente, e eu acho que é isso mesmo. Sendo assim, eu vou aproveitar o momento e vou postar em seguida, uns fragmentos de cartas trocadas entre a Clarice e o Fernando Sabino, pra todo mundo sentir tbm um pouquinho disso aí, dessa coisa chamada Clarice.