domingo, 13 de abril de 2008

DARWIN E A ESTAGNAÇÃO DAS ESPÉCIES




Essa semana li um artigo na revista História Viva intitulado "Brasil Selvagem - palco da iniciação de Darwin". O artigo discorre sobre a passagem da tripulação do barco inglês HMS Beagle sobre as águas trépidas do hemisfério sul no ano de 1831, tendo como o mais ilustre de seus tripulantes o então jovem naturalista Charle Darwin.

A viagem que teve cinco anos de duração, talvez tenha sido a mais importante aventura científica da era moderna, pois possibilitou a esse jovem cientista viver momentos de grandes descobertas e emoções que permitiram uma grande virada na história da ciência. Afinal, nesta expedição Darwin testemunhou tempestades, variações climáticas, conheceu tribos de diferentes hábitos, observou e coletou muitas plantas, viu e caçou animais, sofreu ataque de diversos insetos e observou como os homens viviam. Todas esses acontecimentos foram detalhamente descritos pela mente genial do jovem cientista, o que torna suas percepções acerca dessas experiências uma relíquia histórica e, principalmente, a base que fundamentou a teoria da evolução das espécies e sua adaptação aos ambientes naturais.

Foi no dia 19 de fevereiro de 1831 que o ilustre tripulande pisou nas terras tropicais do paraíso chamado Brasil. Certamente a expectativa criada diante da chegada ao mundo tropical, não deve ter sido das menores, e de fato, as maravilhas do sem fim o aguardavam como podemos ver logo abaixo, em alguns dos fragmentos descritos por Darwin em seu Diário de Bordo:

"A ilha toda é uma floresta, e ela é tão espessamente cerrada que se requer grande esforço de quem pretenda rastejar por ali. O cenário é muito lindo e grandes magnólias e louros e árvores cobertas de delicadas flores haveriam de me satisfazer. (...) Tenho certeza de uqe toda a grandiosidade dos trópicos ainda não foi vista por mim". (Darwin, Charle. 19/02/1831, anotações sobre a aproximação da ilha de Fernando de Noronha)

" O deleite que se experimenta em momentos como esse confunde a mente: se o olho tenta seguir o vôo de uma colorida borboleta, ele é detido por uma árvore ou um fruto estranhos; se observando um inseto, pode-se esquecê-lo na estranha flor sobre a qual caminha; se estiver se voltando para admirar o esplendor do cenário, o caráter individual do primeiro plano toma a tenção." (Darwin, Charles. 27/02/1831, anotações sobre a chegada à Bahia)

Indiscutivelmente, as observações sobre a enorme diversidade de plantas e animais, seus relatos sobre a aproximação da ilha de Fernando de Noronha, a chegada à Bahia, a passagem por Pernambuco, a estadia no Rio de Janeiro foram decisivos para a formação do pensamento científico no Ocidente.
Porém o que mais me chamou a atenção ao ler fragmentos do Diário de Bordo de Darwin, foram as suas observação sociológicas. São estas observações que logo adiante explicitarei, que justificam o título deste post - "DARWIN E A ESTAGNAÇÃO DAS ESPÉCIES". São observações sobre o comportamento dos indivíduos constituintes dessa nação chamada de brasileira. Comportamentos que em nada se modificaram em relação àquilo que chamamos de caráter nacional. Comportamentos que infelismente atestam a vergonha da impunidade, da desigualdade, da exploração e da falta de respeito. Darwin percebeu o "jeitinho brasileiro". Darwin percebeu o desvio do caráter nacional que ainda hoje, talvez mais do nunca, se manifesta de modo um tanto evidente em nossa sociedade. E a esse respeito o jovem cientista anotou no dia 3 de julho de 1831:

"É algo aterrador ouvir os crimes monstruosos que se cometem diariamente e escapam sem punição (...) Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra um homem de posses, é seguro que em pouco tempo ele estará livre. Todos aqui podem ser subornados. Um homem pode tornar-se marujo ou médico, ou assumir outra profissão, se puder pagar o suficiente." ( Darwin, Charles. anotações sobre os costumes brasileiros, 03/07/1831)

E o pior gente, é que o nosso povo, ainda teve a cara de pau de criticar as leis inglesas, apontando que a única falha nelas encontrada, foi a de não poder perceber que as pessoas ricas e respeitáveis tivessem qualquer tipo de vantagem sobre os miseráveis e os pobre.

Pois bem, pagamos na carne o tributo da burrice nacional. E é por essas e outras que tem hora que da vontade de nem sei... Não sei! Sinto vergonha pela falta de vergonha na cara e deixo que Darwin se despeça por mim (e de mim):

"Agradeço a Deus nunca mais ter que visitar um país escravagista. Até hoje quando ouço um grito distante, ele me faz lembrar com dolorosa vivacidade meus sentimentos, quando passando em frente a uma casa próxima de Pernabuco (na verdade, Recife), no Brasil, ouvi os mais penosos gemidos, e não podia suspeitar que pobres escravos estavam sendo torturados (...)."


Pelo que tudo indica, a "Teoria da Evolução" não se aplica muito bem por aqui, e talvez uma Teoria da Estagnação consiga explicar como é possível se dar a adaptação de uma espécie humana em habitat como o nosso. Um local "(...) onde a maioria está ainda em estado de escravidão e onde o sistema se mantém por todo um embargo da educação, fonte pricipal das ações humanas, o que se pode esparar a não ser que seja o todo poluído por sua parte?" (Darwin, Charles. O resumo de sua estada entre nós. 17/03/1831)

Desejo a todos uma semana iluminada e produtiva!
Abraços
Renata













Um comentário:

TODOS OS OLHOS disse...

Amiga,
gostei muito deste artigo, e é isso mesmo que vivemos até hoje!
Só quero ver vc escrevendo mais neste blog hen!!!!
beijão