domingo, 8 de junho de 2008

Eu gosto

Eu não sei pra que servem os aquários, guarda-chuvas, aviões. Mas eu gosto... de sambar no ensaio da escola eu gosto, de serviços domésticos e calças de boca de sino. Eu gosto de velas de todos os tipos e vidros antigos. Eu gosto sem saber exatamente pra que serve, acordar de manhã eu gosto bastante; de café eu gosto. De não saber pra que servem tantas coisas como escorpiões e baratas. Pra que servem baratas e remédios milagrosos e gripes? Pra que servem os olhos e as mãos e os pontos de ônibus e as luzes? Como podem os postes e as pontes e os sinais de trânsitos? Como podem as mães e os filhos? Como podem os pés e chão que as vezes falta? O inverno e o verão e as luas. E as lágrimas rolando dos olhos como um rio transparente. E o sexo como pode o sexo invertendo o corpo pelo meio? Como pode o Tratado de Tordesilhas, e as ilhas quem pode? O vento de outono no rosto e os poços artesianos... as beiras e as torneiras e o amor quem pode? Quem pode palavras como pode esse som transbordando de coisas? Como pode os nomes e homens como pode? (fragmentos de Viviane Mosé)



Para Ágata, pelas boas lembranças que guardo de vc, pelo seu gosto, pela sua literatura e pela sua delicadeza!